O anúncio da compra da Warner Bros. Discovery pela Netflix — em um negócio avaliado em mais de US$ 70 bilhões nesta sexta-feira (5) — provocou uma onda imediata de reações em Hollywood e entre órgãos reguladores.
Mesmo antes da confirmação, a possível aquisição já era alvo de críticas de sindicatos, concorrentes, cineastas e políticos nos EUA e na Europa, desde que os rumores de que a Netflix estava disposta a fazer uma oferta séria por um dos estúdios mais tradicionais do país começaram a ganhar força.
Para grupos trabalhistas, a fusão ameaça empregos e salários. Já rivais do setor alertam para o risco de um domínio sem precedentes no streaming. Cineastas e exibidores, por sua vez, temem impactos diretos no mercado de salas de cinema.
A operação deverá enfrentar um processo regulatório longo e complexo, com autoridades dos dois partidos americanos manifestando preocupação com possíveis efeitos anticompetitivos.
Entre especialistas, porém, as opiniões se dividem: alguns veem riscos logísticos e destruição de valor; outros acreditam que a aquisição pode elevar a Netflix a um novo patamar, ao incorporar um dos maiores catálogos do entretenimento.
Confira abaixo as principais reações ao acordo:
Reações da Indústria
A oposição mais forte veio de cineastas renomados, que demonstraram preocupação com o futuro da experiência cinematográfica.
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James Cameron: O diretor de Avatar e Titanic chamou a compra de um “desastre” em entrevista ao podcast The Town. Ele criticou a visão do co-CEO da Netflix, Ted Sarandos, que já afirmou que o cinema tradicional é uma “ideia obsoleta”. Cameron classificou como “isca para otário” a promessa da Netflix de manter os lançamentos nos cinemas, caso se limitem apenas a estreias reduzidas para qualificação ao Oscar.
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Kleber Mendonça Filho: Diretor de O Agente Secreto, representante brasileiro ao Oscar 2026, defendeu no X (Twitter) a importância das salas de cinema. Segundo ele, “o streaming é uma forma espetacular de ver filmes, mas não pode ter o poder de acabar com a cultura cinematográfica”.
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Produtores de Hollywood: Enviaram uma carta ao Congresso dos EUA pedindo bloqueio da operação. Eles temem que a Netflix “coloque uma forca no pescoço do mercado cinematográfico”, segundo a Variety.
Exibidores europeus: A Unic, que representa exibidores na Europa, afirmou à Hollywood Reporter que o acordo traz um “risco duplo”: menos filmes produzidos e ainda menos títulos chegando às salas.
Posição dos Sindicatos
Os sindicatos de Hollywood se manifestaram com firme oposição, apontando impacto negativo em empregos e condições de trabalho.
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WGA (Roteiristas): Disse que a fusão “precisa ser bloqueada”, pois eliminaria postos de trabalho, reduziria salários, pioraria condições para trabalhadores do entretenimento, elevaria preços para consumidores e diminuiria a diversidade de conteúdo.
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DGA (Diretores): Expressou “grandes preocupações” e afirmou que a competição saudável é essencial para proteger as carreiras e a liberdade criativa dos diretores e suas equipes.
PGA (Produtores): Disse estar “claramente preocupada” com a mudança de controle de um dos estúdios mais históricos do cinema. Exigiu que a operação preserve oportunidades para profissionais e ofereça mais escolhas ao público.
Governo e Órgãos Reguladores
A negociação deve enfrentar uma batalha regulatória intensa por possíveis violações antitruste.
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Governo dos EUA: Um alto funcionário disse à CNBC que a administração Trump vê o acordo de US$ 72 bilhões com “forte ceticismo”.
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Senador Mike Lee (Republicano): Presidente da subcomissão de Antitruste, afirmou que a fusão “levanta sérias questões de competição”, talvez mais do que qualquer outra transação vista em uma década.
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Senadora Elizabeth Warren (Democrata): Classificou o acordo como um “pesadelo antimonopólio”, alertando para risco de alta nos preços, menos opções para consumidores e prejuízos aos trabalhadores.
Reguladores da União Europeia: Especialistas acreditam que o acordo não deve ser barrado, mas deve sofrer investigações e possíveis condições, como manter contratos de licenciamento ou até exigir a venda da HBO Max.
Concorrência
A Paramount — até então vista como favorita na disputa — criticou duramente o acordo, destacando possíveis prejuízos à concorrência e ao mercado cinematográfico.
Em carta enviada à Warner, os advogados da empresa afirmaram que a fusão “consolidaria e ampliaria o domínio global da Netflix”, violando leis de concorrência. A Paramount estima que a empresa combinada teria 43% do mercado global de streaming, o que seria “presumivelmente ilegal” segundo a legislação americana.
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